A Europa Central luta por se libertar do estigma do totalitarismo. Na segunda metade do século XX foi escondida, quase na totalidade, por trás de uma cortina de ferro, e transformada, no discurso comum, numa Europa de Leste. Antes, vira nascer e crescer o nazismo, e o império austro-húngaro, cuja morte deu início ao século XX. E agora, como antes, é chão próspero para nações sem país.

Em 1989 o Muro de Berlim caiu e o mundo viu duas Europas religando-se e lambendo as suas feridas. Em 2001 caíram duas torres em Nova Iorque e o mundo virou-se para outro lado. Pelo meio, houve uma guerra nascida de velhas guerras, houve cidades que recuperaram o seu papel central na História europeia e lugares que perderam o primeiro comboio da nova economia. Olhando para um mapa, é fácil desenhar mentalmente um percurso que atravessa a Europa, desde o Báltico aos Balcãs: o caminho do século XX. Um trilho enleado na História que passa por Varsóvia, cujo inverno infame de 1944 ainda faz os seus habitantes tremer de raiva, e por Berlim, cidade que marca grande parte do século passado, desde 1933 até ao inesquecível dia em que o Muro foi derrubado; visita os guetos e os campos de morte que enfeitaram com um tom eternamente fúnebre os mapas da Alemanha e da Polónia; atravessa Praga e Budapeste e as suas insurreições esmagadas; faz tangentes à Ucrânia e à Roménia, países imensos que não conseguiram acompanhar os saltos dados por outros companheiros de isolamento; e chega aos Balcãs e a Sarajevo, região e cidade que marcaram a ferro e fogo o início e o fim do século passado. Pelo caminho conhece a Cruz, a Estrela de David e o Crescente Islâmico. E atravessa o passado e a culpa.

A Europa Central é uma área indefinida. Avança e recua com o tempo, a História e os exércitos e não cabe entre o mar Báltico e os Alpes, como vem nos livros. Estende-se aos Cárpatos e aos Balcãs, e estica-se muitas vezes até ao mar Negro, como se se recusasse a abandonar o Danúbio, rio que vai seduzindo capitais no seu caminho para a foz. MittelEur/opa visita parte desse conceito, e traz, para a periferia, imagens duma zona de encruzilhadas.

Carlos M. Fernandes